O governo português concedeu autorização à empresa britânica Savannah Resources para acessar terrenos privados no norte de Portugal, com o objetivo de explorar a mina de lítio do Barroso, localizada no concelho de Boticas. A autorização permite que a empresa explore as terras por um período de um ano, com a finalidade de realizar trabalhos de prospeção e pesquisa, incluindo sondagens necessárias para o desenvolvimento do projeto. A medida foi tomada dentro do quadro de uma servidão administrativa, que obriga os proprietários dos terrenos a permitir o acesso, mesmo que não tenham vendido suas terras à empresa.
A decisão do governo tem gerado uma forte reação por parte da população local, especialmente entre os moradores de Covas do Barroso, que se sentiram pegos de surpresa. O presidente da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, Nelson Gomes, afirmou à Euronews que os moradores foram notificados apenas por carta e tiveram um curto prazo de dez dias para se manifestar, mas suas opiniões foram desconsideradas. Segundo Gomes, a primeira notícia do despacho autorizativo foi recebida como um “murro no estômago”.
Para agravar a situação, os proprietários de terrenos privados foram informados da decisão através de uma carta da Savannah, que também comunicava a intenção de pagar indemnizações, uma medida que gerou ainda mais indignação entre os moradores. De acordo com Nelson Gomes, as compensações oferecidas, de mil euros por cada plataforma de 200 metros quadrados, são insuficientes e não cobrem as perdas associadas ao abate de árvores protegidas e outras questões ambientais.
Apesar das críticas, o CEO da Savannah Lithium, Emanuel Proença, garantiu que a empresa já iniciou os pagamentos das indemnizações aos proprietários, com valores que, para os terrenos baldios, chegam a 50 mil euros com IVA. A empresa afirmou que a servidão administrativa é um procedimento padrão no desenvolvimento do projeto, que visa a exploração da maior reserva de lítio da Europa, localizada no Barroso, com 28 milhões de toneladas de espoduménio de lítio de alta qualidade, essenciais para a produção de baterias de veículos elétricos.
Proença também esclareceu que a Savannah já adquiriu parte dos terrenos necessários para o projeto e continua negociando com os proprietários restantes. A empresa espera que a mina do Barroso entre em operação até 2027, e, para isso, precisa de cerca de 840 hectares para a construção de quatro minas na região. No entanto, até agora, conseguiu adquirir apenas 93 hectares, conforme informações divulgadas em setembro de 2023.
A exploração de lítio no Barroso tem atraído forte oposição de ambientalistas e da população local, que temem o impacto da mineração no meio ambiente, incluindo o abate de espécies florestais protegidas. Nelson Gomes, presidente da associação local, criticou as compensações financeiras oferecidas pela Savannah, argumentando que elas não são suficientes para cobrir os danos ambientais causados pela exploração.
A empresa britânica tem um papel fundamental no esforço de redução da dependência europeia do lítio proveniente da China, um objetivo apoiado por várias nações da União Europeia. A agência de crédito à exportação alemã Euler Hermes já manifestou interesse em financiar o projeto, destacando a necessidade urgente de garantir o fornecimento de lítio para a indústria de veículos elétricos, a fim de reduzir a dependência da China, que atualmente domina o mercado global.
Com a previsão de início da produção para 2026, o projeto de lítio do Barroso tem o potencial de se tornar uma das maiores fontes de lítio da Europa, com implicações significativas para a economia da região. No entanto, a questão da exploração dos terrenos privados e a oposição local indicam que o caminho até a conclusão do projeto será repleto de desafios.
Enquanto isso, a Savannah continua seu trabalho de negociação para adquirir mais terrenos e avançar com os projetos de engenharia necessários para a construção das minas. Embora a empresa esteja comprometida em pagar as indemnizações e cumprir a legislação local, a resistência da comunidade e as preocupações ambientais continuam a ser pontos centrais na discussão sobre o futuro da mina de lítio do Barroso. O governo português e as autoridades locais terão que lidar com esses conflitos, equilibrando as necessidades econômicas do país com as demandas da população e as questões ambientais.